Os negócios sociais emergem como uma abordagem inovadora para abordar desafios sociais e ambientais, combinando eficiência econômica com impacto positivo. Ao contrário dos negócios tradicionais que buscam apenas e exclusivamente o lucro, os negócios sociais têm como objetivo principal gerar impacto social positivo enquanto se mantêm financeiramente sustentáveis.
Neste artigo, exploramos o que são negócios sociais, a história, suas principais características, exemplos de negócios sociais no Brasil e na região e a importância da ENIMPACTO para a atuação de negócios de impacto socioambiental em todo o país.
O que são Negócios Sociais?
Os negócios sociais são empresas que buscam resolver problemas sociais ou ambientais por meio de soluções inovadoras e sustentáveis. Diferentemente das organizações sem fins lucrativos (OSC´s) que são consideradas do 3° setor, os negócios sociais operam com um modelo de negócios autossustentável, onde os lucros são reinvestidos para ampliar o impacto social.
Dessa forma, os negócios sociais não estão encaixados no 1° setor, nem no 3° setor e sim no Setor 2.5. O conceito de “Setor 2.5” refere-se ao engajamento de organizações que geram mudança social por meio de atividades de mercado. Isso inclui ONGs, organizações com fins lucrativos ou do setor privado envolvidas em atividades empresariais típicas do setor público, que produzem produtos e serviços de valor significativo. Isso quer dizer que os negócios sociais podem ser vistos como parte do Setor 2.5, pois incorporam como propósito a abordagem de impacto social e ambiental em seus modelos de negócios.
De onde surgiu o termo negócios sociais?
O termo “negócio social” ou “empresa social” foi popularizado pelo economista Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz e fundador do Grameen Bank. Esse banco de microcrédito foi criado para combater a pobreza em Bangladesh, fornecendo empréstimos a famílias de pequenos produtores rurais que não tinham acesso a crédito em bancos convencionais.
É interessante falar que décadas depois, esse modelo foi adotado por outros países em políticas sociais, como o programa Bolsa Família no Brasil.
Yunus defende que o propósito principal de um negócio social é gerar valor social por meio de métodos de negócios, através da venda de produtos ou serviços. Nesse contexto, o objetivo de maximizar os lucros é substituído pelo princípio de beneficiar a sociedade. Em seu livro “Criando um negócio social”, Yunus explica que, em vez de buscar o maior lucro financeiro possível para os investidores, uma empresa social busca alcançar objetivos sociais, e os lucros são reinvestidos integralmente na organização.
Com o tempo, o termo “negócios sociais” evoluiu para novas nomenclaturas, como “negócios de impacto” e “negócios de impacto social”, que diferem em termos de lucros e sua distribuição.
Enquanto os negócios sociais reinvestem totalmente seus lucros na organização, os negócios de impacto social distribuem lucros entre os sócios envolvidos. Essa ideia foi desenvolvida por Stuart Hart e Michael Chu, acadêmicos de Cornell e Harvard, nos Estados Unidos. Segundo esses professores, a distribuição de lucros permite criar novos empreendimentos com a velocidade necessária para enfrentar desafios sociais globais, atraindo mais investidores para esses negócios. Assim, os negócios de impacto social são iniciativas que oferecem soluções escaláveis para os problemas sociais enfrentados pela população de baixa renda.
Quais são as principais características dos negócios sociais?
Segundo o SEBRAE, existem algumas características que fazem de um empreendimento um negócio social e seus derivados, entre elas estão:
- Há comprometimento do empreendedor e de sua equipe em melhorar a qualidade de vida da população de baixa renda ao vender um produto ou serviço que contribui para isso.
- Esse produto ou serviço principal é capaz de sustentar financeiramente a empresa, de forma que ela não dependa de doações ou captação de recursos para as suas operações.
- Apresenta inovação no modelo de negócio.
- Tem potencial de alcançar escala e operar de maneira eficiente.
Negócios Sociais na região e no Brasil
No Brasil e em muitos países da região, os negócios sociais têm ganhado destaque como uma abordagem para enfrentar problemas persistentes, como desigualdade, acesso limitado a serviços básicos e degradação ambiental. Exemplos:
Muda Meu Mundo
Muda Meu Mundo, criado por Priscilla Veras, é uma plataforma que estabelece conexões entre pequenos produtores e o setor varejista por meio da aplicação de análise de dados, promovendo uma alimentação sustentável. A função é intermediar entre agricultores familiares e supermercados, garantindo uma cadeia justa e abrangente, com benefícios ao longo de todo o processo. Isso gera renda regular para os produtores e fornece análises de critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) para o setor varejista.
Catarina Mina
Catarina Mina, idealizada por Celina Hissa, é especializada na criação artesanal de bolsas. A marca Catarina Mina incorpora dedicação a cada etapa do processo de produção, combinando a autenticidade do artesanato à elegância do luxo. Reconhecida nacionalmente e com presença em 26 países, incluindo EUA, França, Japão e Dubai, a marca também se destaca por desenvolver produtos de marca própria para renomadas marcas como Osklen, Água de Coco, Maria Filó e outras. Com impacto positivo sobre mais de 300 artesãs, em sua maioria mulheres, a Catarina Mina opera oficinas, seguindo 7 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Giardino Buffet
Localizado no Bom Jardim, o Giardino Buffet utiliza a culinária como motor de transformação para mulheres, trazendo sustentabilidade para iniciativas comunitárias. Criado pela Natália Tatanka e desenvolvido pelo Movimento Saúde Mental (MSM), o Giardino Buffet oferece serviços personalizados de buffet móvel para eventos corporativos e familiares, assim como aluguel de peças do seu acervo. Os lucros auferidos com os eventos são direcionados para apoiar cuidados de saúde mental nas áreas periféricas de Fortaleza, incluindo práticas terapêuticas individuais e coletivas.
Feira Preta
Originando-se como um brechó na Vila Madalena, em São Paulo, a Feira Preta expandiu para se tornar o maior evento da América Latina voltado para a comunidade negra. Idealizado por Adriana Barbosa, a Feira Preta visa a promoção de empreendedores e negócios de pessoas negras. No ano de 2019, o evento gerou cerca de 4 milhões de reais, contribuindo para o emprego e destacando produtos de empresas cujos proprietários são negros.
Grupo Reinserir
Reinserir, criado pela Natália Silva, é um grupo de psicólogos que oferecem atendimento psicoterápico e desenvolvem projetos na área social e na área organizacional. Hoje, o negócio conta com uma rede de 24 psicólogos e psicólogas que realizam o atendimento com preços mais acessíveis. Além disso, auxiliam na inserção dessas pessoas no mercado de trabalho.
A importância da ENIMPACTO para os negócios de impacto social
A Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (ENIMPACTO) é uma articulação de órgãos e entidades da administração pública federal, do setor privado e da sociedade civil com o objetivo de promover um ambiente favorável ao desenvolvimento de investimentos e negócios de impacto.
Recentemente, um novo decreto da ENIMPACTO foi assinado pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva e explica que “economia de impacto” é definida como uma modalidade econômica que prioriza empreendimentos capazes de gerar impacto socioambiental positivo, promovendo a regeneração, restauração e renovação dos recursos naturais. Além de impulsionar a inclusão de comunidades para tornar o sistema econômico mais equitativo.
Mundialmente, o investimento em iniciativas sustentáveis é estimado em US$ 1,1 trilhão. No Brasil, a quantia destinada a esses empreendimentos ainda é modesta, mas o governo brasileiro espera uma ampliação significativa dessas atividades com a implantação da Enimpacto.
ENIMPACTO e seus objetivos
São objetivos da Estratégia Nacional de Economia de Impacto:
1 ampliar a oferta de capital;
2 aumentar a quantidade de negócios de impacto;
3 fortalecer organizações intermediárias;
4 promover um ambiente institucional e normativo favorável aos investimentos e aos negócios de impacto;
5 promover a articulação interfederativa com Estados e Municípios no fomento à economia de impacto.
As mudanças com o novo decreto
O objetivo do novo decreto consiste em criar um contexto propício ao crescimento econômico através da resolução de questões sociais e ambientais. Dessa forma, conseguimos analisar umas mudanças significativas, tais como:
- A iniciativa atribui responsabilidades a 25 órgãos governamentais e um número igual de organizações da sociedade civil (OSCs)
- Criação do eixo de articulação com estados e municípios que visa incentivar os entes federativos na regulamentação da sua atuação na área da economia de impacto e apoiar a estruturação de comitês locais
- Fica instituído o Comitê de Economia de Impacto, órgão consultivo destinado a propor, monitorar,avaliar e articular a implementação da Estratégia Nacional de Economia de Impacto
- Comitê de Economia de Impacto – um grupo com representantes do poder público e da sociedade civil, com o objetivo de propor, monitorar,avaliar e articular a implementação da Estratégia Nacional de Economia de Impacto
Seja uma pessoa apoiadora de negócios de impacto
O apoio a negócios de impacto social envolve diversas ações para promover seu crescimento e impacto positivo. Isso pode incluir a compra consciente de produtos, investimentos financeiros, mentoria, voluntariado, divulgação, parcerias, participação em eventos, consumo responsável, advocacia por políticas favoráveis e busca contínua por aprendizado. Cada ação contribui para a expansão do alcance e do efeito positivo desses negócios.